Abrir os jornais e ler o noticiário nem sempre é sinônimo de
compreensão da realidade que nos cerca, pois dependemos tanto da habilidade
daqueles que nos contam as histórias, como de nossa capacidade de apreensão a respeito
do contexto que envolvem os fatos relatados. Apesar de se propor a ser, esta não
é uma equação simples.
Esta é a ideia, o encanto e a dificuldade que cercam a obra “O
18 de Brumário de Louis Bonaparte”, escrito por Karl Marx, que teve a primeira edição
publicada em 1852. Mais do que um relato a respeito dos atos e fatos
registrados na França entre 1848 e 1851, Marx analisa as relações firmadas e
formadas pelos atores sociais à época em um país marcado por turbulências
social, econômica e ideológica que marcam a luta de classes.
A partir do retrato deste período que inicia com a eleição
de Louis Bonaparte e termina com o encaminhamento ao golpe de Estado que o
consagra imperador, Marx nos leva a uma viagem que resgata momentos históricos
da formação política francesa desde a Revolução de 1789, passando pela ascensão
e golpe de Napoleão Bonaparte - tio de
Louis Bonaparte – e todas as idas e vindas entre dos modelos de Estados
adotados no País.
Com um texto marcado pelo sarcasmo que não hesita em usar
adjetivos depreciativos para caracterizar personagens - especialmente o protagonista da história
- e os atos cometidos por eles, Marx
analisa o papel dos poderes legislativo e executivo, a promiscuidade das relações
dos detentores do poder que tornam cada vez mais distante do real a promessa de
Liberdade, Igualdade e Fraternidade que levou a burguesia ao poder e a
corrompeu.
Nesta obra, o propósito de Marx é nos mostrar que a história
é cíclica, que os fatos se repetem, algumas vezes, nem mesmo o nome das
personagens muda. Se não há diferença na forma, mas sim o conteúdo, como ele
mesmo ressalta ao deixar claro que o Louis é uma medíocre versão de Napoleão
Bonaparte e que, mesmo que a gestão deste não tenha sido boa, a do sobrinho foi
ainda pior.
Na análise do turbulento período presidencial de Louis Bonaparte,
Karl Marx antevê o golpe a ser dado por ele e explica como as forças vigentes
favoreceriam a ação que só aconteceria meses após a publicação dos escritos do
autor.
Aos que relutam em ler Marx por conceitos previamente
estabelecidos, vale ressaltar que a sagacidade analítica revelada por ele é
para poucos. Neste texto que, apesar de conter menos de cem páginas, é denso e
repleto de informações como um calhamaço, foi escrito em um período de dezembro
de 1851 a março de 1852, em uma época na qual não existia internet para a apuração
dos dados, e publicados no primeiro número da revista Die Revolution em 1852,
em Nova York,nos Estados Unidos, enquanto o autor estava em Londres.
Assim, é possível perceber que os clássicos não são chamados
clássicos à toa!
Finalmente, a república parlamentar, na sua luta contra a revolução, viu-se obrigada a fortalecer, juntamente com as medidas repressivas, os meios e a centralização do poder do governo. Todas as revoluções aperfeiçoam esta máquina, em vez de a destruir. Os partidos que lutavam alternadamente pela dominação, consideravam a tomada de posse deste imenso edifício do Estado como a presa principal do vencedor.Mas sob a monarquia absoluta, durante a primeira revolução, sob Napoleão, a burocracia era apenas o meio para preparar a dominação de classe da burguesia. Sob a restauração, sob Louis-Philippe, sob a república parlamentar, era o instrumento da classe dominante, por muito que também aspirasse a um poder próprio.
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