15 abril 2017

Ética. Um debate necessário

Pode parecer clichê tentar estimular o debate a respeito da ética nos mais diversos setores, porém, ao observarmos as mudanças que acontecem ao nosso redor a uma velocidade quase impossível de acompanhar, temos condições de perceber que as novas formas de relacionamento que tais transformações nos impõem, requerem o estabelecimento de padrões de comportamento que, até então, não tiveram a necessidade de, nem mesmo, serem pensados.

No ambiente acadêmico, a observância das normas e padrões de comportamento é algo tão intrínseco ao processo reflexivo/produtivo que as questões éticas parecem ser guias naturais da conduta dos pesquisadores. Mas, mesmo com todas as regras previamente estabelecidas, a academia está inserida no contexto social e trabalha para compreende-la e, consequentemente, viabilizar o aprimoramento de processos, produtos e serviços. É o que se espera! Mais que isso, é preciso ter em mente que as pesquisas são desenvolvidas por pessoas que influenciam e são influenciadas por tais mudanças e, justamente por isso, estão sujeitas aos desvios.

A relevância deste tema pode ser observada no livro “Métodos de Pesquisa em Administração”, de Donald R. Cooper e Pamela S. Schindler, AMGH Editora Ltda. (2016). Os autores dedicam um dos primeiros capítulos para discorrer sobre um tema que, em geral, neste tipo de publicação, tende a aparecer no final da obra.

O capítulo 2, intitulado “Ética em Pesquisa em Administração”, fica atrás apenas daquele que traz a definição da Pesquisa em Administração, tema do livro. Nele, os autores abordam a ética em pesquisa; como participantes e patrocinadores devem ser tratados, a partir da concepção teórica adotada; como os pesquisadores devem atuar, tendo como exemplo os padrões profissionais mundialmente adotados; e a relevância da manutenção constante de debates sobre este tema, além de apontarem ambientes virtuais nos quais essas discussões têm acontecido e são importante fonte de informação e atualização para os interessados nesta área, sejam profissionais e/ou usuários.

Cooper e Schindler abordaram dois temas que merecem destaque: o direito à privacidade e a coleta de dados no ciberespaço.

O contexto globalizado e virtualmente conectado no qual vivemos nos coloca diante do desafio de manter, minimamente, a nossa individualidade preservada. Como fazer isso se caminhamos para deixar todos os nossos rastros em sistemas digitalmente conectados?

Se como usuários temos dificuldades de encontrar respostas, a postura adotada por pesquisadores deve ser de cautela e observação aos procedimentos que garantam a preservação de confiança entre profissionais e participantes. A mesma preocupação deve orientar o uso dos dados disponíveis em bancos formados com informações de pessoas que não necessariamente têm consciência de que alimentam sistemas capazes de orientar os mais diversos tipos de práticas, produtos e serviços.

Como bem afirmam os autores, “os dispositivos de coleta de informações disponíveis hoje foram as ferramentas de espiões, protagonistas de ficção-científica ou super-heróis em outras épocas.”

Ou seja, cautela, nunca é demais, tendo em vista que persistem as dúvidas a respeito do que é ou não um comportamento ético no ambiente virtual, jogando a responsabilidade do cuidado com a investigação e resultados alcançados para os pesquisadores.

A novidade e a conveniência de comunicar-se por computador levou os pesquisadores ao ciberespaço em busca de fontes abundantes de dados. (2016, p. 35)