Pode parecer clichê tentar estimular o debate a respeito da
ética nos mais diversos setores, porém, ao observarmos as mudanças que
acontecem ao nosso redor a uma velocidade quase impossível de acompanhar, temos
condições de perceber que as novas formas de relacionamento que tais
transformações nos impõem, requerem o estabelecimento de padrões de comportamento
que, até então, não tiveram a necessidade de, nem mesmo, serem pensados.
No ambiente acadêmico, a observância das normas e padrões de
comportamento é algo tão intrínseco ao processo reflexivo/produtivo que as
questões éticas parecem ser guias naturais da conduta dos pesquisadores. Mas,
mesmo com todas as regras previamente estabelecidas, a academia está inserida
no contexto social e trabalha para compreende-la e, consequentemente,
viabilizar o aprimoramento de processos, produtos e serviços. É o que se
espera! Mais que isso, é preciso ter em mente que as pesquisas são desenvolvidas
por pessoas que influenciam e são influenciadas por tais mudanças e, justamente
por isso, estão sujeitas aos desvios.
A relevância deste tema pode ser observada no livro “Métodos
de Pesquisa em Administração”, de Donald R. Cooper e Pamela S. Schindler, AMGH
Editora Ltda. (2016). Os autores dedicam um dos primeiros capítulos para
discorrer sobre um tema que, em geral, neste tipo de publicação, tende a
aparecer no final da obra.
O capítulo 2, intitulado “Ética em Pesquisa em
Administração”, fica atrás apenas daquele que traz a definição da Pesquisa em
Administração, tema do livro. Nele, os autores abordam a ética em pesquisa;
como participantes e patrocinadores devem ser tratados, a partir da concepção
teórica adotada; como os pesquisadores devem atuar, tendo como exemplo os
padrões profissionais mundialmente adotados; e a relevância da manutenção
constante de debates sobre este tema, além de apontarem ambientes virtuais nos
quais essas discussões têm acontecido e são importante fonte de informação e
atualização para os interessados nesta área, sejam profissionais e/ou usuários.
Cooper e Schindler abordaram dois temas que merecem
destaque: o direito à privacidade e a coleta de dados no ciberespaço.
O contexto globalizado e virtualmente conectado no qual
vivemos nos coloca diante do desafio de manter, minimamente, a nossa
individualidade preservada. Como fazer isso se caminhamos para deixar todos os
nossos rastros em sistemas digitalmente conectados?
Se como usuários temos dificuldades de encontrar respostas,
a postura adotada por pesquisadores deve ser de cautela e observação aos
procedimentos que garantam a preservação de confiança entre profissionais e
participantes. A mesma preocupação deve orientar o uso dos dados disponíveis em
bancos formados com informações de pessoas que não necessariamente têm
consciência de que alimentam sistemas capazes de orientar os mais diversos
tipos de práticas, produtos e serviços.
Como bem afirmam os autores, “os dispositivos de coleta de
informações disponíveis hoje foram as ferramentas de espiões, protagonistas de
ficção-científica ou super-heróis em outras épocas.”
Ou seja, cautela, nunca é demais, tendo em vista que persistem
as dúvidas a respeito do que é ou não um comportamento ético no ambiente
virtual, jogando a responsabilidade do cuidado com a investigação e resultados
alcançados para os pesquisadores.
A novidade e a conveniência de comunicar-se por computador levou os pesquisadores ao ciberespaço em busca de fontes abundantes de dados. (2016, p. 35)