Há quatro meses minha Ursa descansou. Com o passar dos dias, a dor da perda, que nos leva a um ambiente sem luz - por isso chamado luto, é transformada e começa a ter significados, com os quais aprendemos as mais diversas lições.
Ursa trouxe aos nossos dias o mais puro amor. Incondicional. O chorinho a cada chegada, mesmo que em breves saídas, era de partir o coração e de nos prender em casa o máximo possível. Nada que um pouquinho de carinho na barriga não resolvesse e acalmasse o medo de um novo abandono, talvez. Ursa foi resgatada da rua, sempre dócil e amedrontada, consequência de possíveis maus-tratos.
Dizem que os cachorros têm memória curta para as coisas tristes e só carregam com eles as boas lembranças. Não à toa, que a princesinha sempre demonstrou cumplicidade. Revelava incômodo diante de lágrimas, em momentos diversos. Nos lambia como quem quisesse enxugá-las e fazer cessar o choro que, para ela, não tinha espaço.
Gostava da exclusividade na atenção. Nada de celular por perto ou conversas paralelas com estranhos, razões para reclamações sem o menor constrangimento. Se o interlocutor fosse conhecido, a conversa era permitida, desde que o carinho na barriga não fosse interrompido.
Ditava as regras, desde o local para o xixi (sem ninguém olhando, por favor!) à definição dos pratos preferidos. Sabia negociar e nos ganhar com o olhar pidão de quem só queria nos fazer sorrir. E fez. Todos os dias de sua vida.
Vida marcada por lutas, mas que por mais duras que tenham sido não tiraram dela o olhar sincero, ingênuo, cativante e de puro amor. Sim, amor. De novo e sempre. Não há como defini-la de outro modo. ❤
A dor da lembrança da luta pela vida vai perdendo a força. Sei que ela está bem, que partiu sabendo que foi amada com a mesma intensidade do amor que nos deu e que o que esteve ao nosso alcance para cuidar dela, foi feito. A dor é menos impactante, mas o vazio está dentro e fora. Na alma, na casa, na pracinha, nos dias.
A dor e o vazio são amenizados pela gratidão de ter podido viver tudo o que vivemos com ela e graças a ela, nossa princesinha, que, sem dúvida, fez de nós pessoas melhores e agora nos ensina a lidar com esta saudade sem fim. Mais um aprendizado a agradecer à Ursa!