04 maio 2016

O que virá com Temer

Nesta semana, respirei fundo para ler a edição 2476 de 4 de maio da Revista Veja. A publicação já é estranha por ser divulgada quase uma semana antes da data de capa, sem falar no conteúdo que, há muito tempo se transformou em sinônimo de antijornalismo.

O que esta edição tem de especial ao ponto de me fazer voltar a lê-la? A matéria da capa: “As apostas de Temer” que, num primeiro olhar, li como sendo “As propostas de Temer”, mas que, no final da história dá no mesmo.

Em um texto que ocupa quatro das seis páginas dedicadas ao artigo, apresentado ao leitor como reportagem e assinado por Robson Bonin e Daniel Pereira, é possível ver que o processo de impeachment deflagrado contra a presidente Dilma é uma iniciativa contra os avanços sociais registrados no país. As outras duas páginas foram destinadas a estampar a foto do vice-presidente ao lado do título, “A largada de Temer”.

Não é por acaso que a matéria termina com uma ameaça de Michel Temer contra os movimentos sociais ao afirmar que não aceitará que paralisem o país em manifestações que, apesar de afirmar serem democrática, alerta que se for necessário recorrerá às Forças Armadas para garantir a ordem.

E qual a razão desse recado nada amistoso de um vice que já se sente presidente do Brasil, mesmo sem ter sido eleito para exercer tal cargo?

A agenda que está sendo estudada por Henrique Meirelles, apontado como Ministro da Fazenda do possível governo Temer, foi entregue por Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), e apresenta as seguintes propostas:

ü  Suspensão dos reajustes salariais dos servidores públicos;
ü  Proibição de novas contratações;
ü  Extinção de vantagens e gratificações;
ü  Corte imediato de R$ 33,4 bilhões em investimentos públicos;
ü  Venda de parte das estatais;
ü  Corte na verba do Fundo Partidário de R$ 819 milhões para R$ 371 milhões.

O documento entregue por Skaf a Temer conta com 53 páginas com sugestões como estas que, ao meu ver, tem como boa proposta o corte da verba do Fundo Partidário. Acreditar que não haverá reação social diante da tentativa de implementação dessas medidas é, no mínimo, ingenuidade.

A matéria da Veja diz ainda que a agenda do próprio Temer inclui a desvinculação entre os benefícios previdenciários e o salário mínimo, além da fixação de uma idade mínima para a aposentadoria de homens e mulheres (o que já existe, ou seja, terá a idade mínima elevada), um pacote de privatizações, ‘que deve incluir empresas como a BR Distribuidora’.

O tão anunciado corte de ministérios também está em pauta. Para a FIESP, a redução deve ser de 32 para 20, mas Temer já loteou os cargos e precisa manter 26. O fim da reeleição também está entre as prioridades, como promessa do vice-presidente feita ao PSDB.

Aliás, o artigo recheado de adjetivos usados de maneira pejorativa é fiel quando diz: “Como o PMDB é o PMDB e Temer é Temer, a cartilha do fisiologismo também já está sendo atualizada. (...), o vice já se rendeu ao toma lá dá cá. (...) [os ministérios] serão loteados entre as siglas de sempre, aquelas que mercadejam apoio em troca de um lugar ao sol. (...). Todos estavam com Dilma. Todos estão com Temer. Todos estarão com o mandatário eleito em 2018 e depois e depois, até o dia em que se aprove uma reforma política e eleitoral decente. ”

Mas se mesmo assim você ainda crê que, apesar dessas medidas e a forma de se jogar ser apenas mais do mesmo, o impeachment vai tirar a corrupção do centro do poder do país, a matéria lembra que Romero Jucá (PMDB), provável Ministro do Planejamento, responde inquérito no STF sob acusação de receber propina. Dilma não responde processo algum. No entanto, vamos em frente.

Temer já disse que sua primeira ação como presidente será alterar a meta fiscal de 2016. Oi? Não foi por causa desta mesma iniciativa que o processo sob alegação de crime de responsabilidade fiscal contra Dilma começou?  Mas você pode alegar que foi a impopularidade dela inviabilizou o governo. A Veja diz que, segundo o Ibope, 25% dos entrevistados em uma pesquisa defendem a permanência de Dilma, e apenas 8% apoiam um eventual governo Temer.

Michel Temer declarou que quer entrar para a história. E vai. Não pelo fato de ser um “advogado constitucionalista que escreve poemas e admite conhecer pouco de economia”, mas por assumir, em uma democracia -  na qual os representantes são eleitos pelo voto direto do povo -, a presidência da República como consequência dos 367 votos dos deputados federais a favor do impeachment. Dilma foi eleita por 54.501.118 de brasileiros. Isso sim é maioria.

Em 2013, diante das manifestações populares registradas em todo o Brasil, Dilma Rousseff propôs a realização de uma Constituinte para que os anseios da sociedade fossem discutidos. Os políticos profissionais, que teriam seus interesses podados, realizaram maciça campanha contra a iniciativa. Até mesmo o trineto de Dom Pedro II, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, defensor da instalação de uma Monarquia Parlamentarista no país, defende a iniciativa. Também está nesta edição da Veja.

Não se iluda. Os articuladores da manobra política para usurpação do poder que estamos testemunhando não estão interessados em ouvir a sociedade. Se assim fosse, teriam aceitado o resultado das eleições de 2014, o que até hoje não aconteceu. 


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