A exceção acontece quando há disposição dos veículos de comunicação de abordar o tema por uma perspectiva que vá além da factual, o que raramente acontece. Exemplo desta realidade são os registros das fugas nos presídios do Rio Grande do Norte. O que de novo é apresentado além do contador de presos fugitivos em 2016?
Mas na política brasileira, os fatos e os atores neles envolvidos têm a capacidade de se reinventar e nos surpreender a cada momento. Esses desdobramentos nos deixam tão confusos que, à nós, simples mortais, resta parar e esperar o desenrolar dos acontecimentos na tentativa de compreender o que acontece nos bastidores do poder.
Não, meus caros, não sabemos o que acontece. Talvez não saibamos nunca.
E na tentativa de conseguir acompanhar os movimentos dos detentores do poder, nos damos conta de que eles nos representam e, por esta razão, devem explicações à cada um de nós a respeito dos atos que praticam. Mais uma divergência entre a teoria e a prática, já que isso não acontece. E diante desta percepção é inevitável constatar que a inversão de valores é algo tão arraigado a nossa cultura que assumir nossa responsabilidade diante do caos parece cada vez mais improvável.
Assim, não é difícil perceber que o discurso moral de combate à corrupção, que virou moda no país, parece ser a luta pelo fim da corrupção do outro. Uma postura contrária a essa nos levaria a um patamar que vai além da crítica pela crítica, afinal, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Waldir Maranhão e companhia foram eleitos pelo voto direto. E mesmo que você não tenha votado neles, eles te representam. Este é o nosso sistema.
O exercício da cidadania é a base para a prestação de um serviço público adequado em todos os níveis, pois é a ação da sociedade civil organizada que leva ao fortalecimento da democracia. A consequência disso será o respeito aos direitos dos cidadãos pelo aumento do grau de responsabilidade pública do Estado, para tornar este serviço realmente voltado ao interesse público.
Como fazer isso acontecer sem a participação qualificada dos cidadãos na política?
Neste caso, o adjetivo “qualificada” é importante pois o debate político exige informação e capacidade discernir coletivamente sobre os rumos que o Estado deve tomar. Consegue perceber que tudo isso é um ciclo do qual somos elemento essencial?
O professor Clóvis de Barros Filho, no curso de Ética disponível gratuitamente no Veduca, ao falar sobre o espaço público, na perspectiva de Habermas, explica que esta esfera “será tanto mais rica, tanto mais competente para definir fins e meios, quanto mais povoado ela for de bons argumentos”.
Analisando objetivamente os discursos, será que podemos dizer que o debate tem sido qualificado? Infelizmente, creio que a resposta para este questionamento seja não.
Não há como reverter esta realidade – que nitidamente nos desagrada - sem que façamos uma avaliação individual a respeito das consequências da nossa conduta no processo de construção coletiva. Por mais a gente tenda a fugir dela, esta é uma reflexão a respeito da ética, entendida, de acordo com o professor, como a investigação sobre o pensamento que tem por objetivo analisar a nossa conduta social.
A ética, diz Clóvis de Barros Filho, está longe de ser uma tabela de certo e errado, “é uma disposição arejada e permanente para argumentação ininterrupta sobre problemas virginais e repetíveis que temos que encarar a cada segundo e que sexta-feira não existiam”.
Este debate permeia todos os âmbitos da nossa sociedade desde que o mundo é mundo. Uma passagem pela produção dos clássicos da Filosofia nos permite ver isso. E esta produção não parou, pois ela acompanha as mudanças sociais. Por isso, cursos, palestras e livros mantêm esta reflexão viva na tentativa de nos incentivar a assumir nosso papel nesta discussão sobre os princípios que queremos como norteadores de nossa convivência, pois, por mais fácil que seja responsabilizar o outro, somos todos responsáveis pela bagunça que aí está.
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