15 maio 2016

O que fazer diante de textos densos?

O que fazer quando o texto não é empolgante e se revela denso e, consequentemente, de desenvolvimento lento? O primeiro pensamento é desistir da leitura e procrastinar os encontros com as ideias do autor. Mas como ensina o professor Clóvis de Barros Filho, é preciso ter brio e se permitir enfrentar situações que nos tiram da zona de conforto. A satisfação da tarefa concluída é o melhor prêmio e, por mais que eu descreva esta sensação, só será capaz de compreender seu significado aquele que se permitir busca-la.

Esta foi a realidade que encontrei no primeiro livro sorteado da minha lista To Be Read e devidamente inserida na Book Jar. A obra do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, da Coleção os Pensadores, Editora Nova Cultural, não é das mais divertidas e empolgantes, mas traz em suas reflexões associações que me levaram a pensar muito mais sobre o processo de elaboração das ideias do que nas ideias propriamente ditas.

Quando adentramos as páginas dos livros, somos convidados a viajar sob a orientação do autor pelas histórias que ele nos revela. Nos envolvemos com os personagens, com o enredo, fazemos associações ao nosso cotidiano e com as pessoas com as quais convivemos. Somos levados a mergulhamos naquele universo que nos é apresentado, seja ele real ou fictício.

Este é o caminho usual, porém não foi a realidade registrada na maior parte da leitura deste livro que é um estudo linguístico realizado a partir da reflexão sobre os jogos de linguagem, significados, capacidade de interpretação, associação e raciocínio lógico em minúcias, chegando a abordar elementos da psicologia que nos levam a questionar: como esse cara chegou a essas ideias a respeito da língua e do uso que se faz dela?

E nesta perspectiva, a parte do livro que trata da vida e obra de Wittgenstein explica a inquietação que o move e inspira. Detalhista, dedicou-se à pesquisa e à docência na Inglaterra, atividades que ocuparam seu tempo no início do século XX, período no qual também enfrentava a depressão e pensamentos suicidas.

A insinuação de que era homossexual, em uma época em que esta condição humana era inadmissível e tratada como doença, auxilia na compreensão sobre as inquietudes da alma do filósofo, que participou das duas grandes guerras e morreu aos 62 anos, em decorrência de um câncer.

Para os estudiosos da língua, os leitores que se interessam por raciocínio lógico, uso e significado da linguagem, bem como aqueles que curtem um desafio literário, cito o próprio Wittgenstein, que diz:

“A autenticidade da expressão não é passível de prova; devemos senti-la”. 
E, neste caso, isso só é possível a partir da leitura da obra que me causou alívio concluir, bem fora do cronograma previsto. Com este livro, chegamos a 11 lidos em 2016.

Apesar de ser classificado com apenas uma estrela de cinco, o ensinamento que fica é que não há texto que não possa contribuir para o desenvolvimento de nossa capacidade intelectiva, com nossa maneira de ver e sentir o mundo. E a experiência de abrir mão da autonomia no momento da escolha, confesso, leva a intensa ansiedade por não saber o que virá do sorteio da obra a ser lida na semana. Porém, a disciplina e a persistência para a superação dos limites auto impostos nos levam a resultados inesperados e que sempre agregam.

O livro sorteado foi O que é sociologia, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. Um afago da aleatoriedade após a experiência com Wittgenstein. 

Sorteio da lista TBR na Book Jar do livro da semana

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