Não sei quanto a você, mas eu tenho dificuldades para lidar
com os extremos, por entender que eles são difíceis de se sustentar, na medida
em que representam algo utópico a ser alcançado. Em dias de intolerância diante
de posicionamentos políticos, é possível perceber claramente este tipo de
situação.
De maneira simplória, se minha indignação é com esquemas de
corrupção, ela não pode ser seletiva. Se defendo punição exemplar aos
indivíduos apontados como envolvidos em tais esquemas, não posso tratar de
maneira diferenciada o indivíduo 1 por pertencer ao partido A em relação ao
indivíduo 2 que integra o partido B. Seguindo o mesmo raciocínio, se me declaro
cristã, como posso defender de maneira ferrenha o linchamento e a morte de quem
quer que seja?
Sem entrar no mérito dos exemplos abordados, o fato é que a
defesa de posicionamentos extremos nos levam a ações contraditórias que tornam
a convivência e a manutenção das relações sociais um fardo para todos. Partindo
desse princípio, é fácil compreender a razão de a maioria das pessoas afirmar
que uma das piores coisas na vida é lidar com pessoas, mesmo que esta afirmação
seja contraditória em si mesma, pelo simples fato de sermos seres sociais.
O ser humano é, por natureza, mutável. E ainda bem que as
mudanças fazem parte do nosso ser. Do contrário, qual seria a graça do viver?
No que consistiria o evoluir se nos mantivéssemos os mesmos?
Parece que estou sendo contraditória ao defender as mudanças,
não é mesmo? Mas não é isso. As nossas mudanças nos levam a um patamar mais
elevado de nós mesmos. Aprendemos a todo momento, mesmo que não façamos esforço
para isso. A vida ensina, mesmo, inclusive àquele que se dedica apenas a viver
a vida do outro. A evolução é inevitável.
Ora, se minha mudança é algo inevitável, aonde está a incoerência
do ser ao defender extremos?
Entendo que, na medida em que evoluímos, temos condições de
rever nossos conceitos e formas de agir ao perceber que aquilo que acreditávamos
ser a única resposta correta não passa de uma das infinitas possibilidades que
o contexto social nos oferece. Porém, aquela era a que melhor se adequava à
nossa percepção de mundo, até determinado momento. Quando aprendemos algo novo,
independente da forma de aprendizado, a nossa percepção muda, pois ela é influenciada
diretamente por nossas experiências e as experiências daqueles com os quais
convivemos.
Ao defender e adotar posturas extremas estabeleço parâmetros
que se apresentam como imutáveis. Essa impossibilidade de mudança vai de
encontro a própria natureza do ser humano, caracterizado por sua eterna mutabilidade.
Como tornar essa dualidade compatível? Penso ser esta busca, também, utópica.
Nas pequenas coisas do nosso cotidiano temos a possibilidade
de perceber a incongruência a qual nos levam as posturas extremas. São elas que
nos fazem tratar mal uma pessoa que ontem tratamos bem, em circunstâncias
semelhantes. Do outro lado, aquele que se vê diante da nossa incompreensível incoerência
tende a estabelecer seus próprios extremos na tentativa de se defender dos
ataques, inviabilizando qualquer possibilidade de entendimento.
Por outro lado, os que buscam a conciliação nem sempre
encontram o campo fértil às suas iniciativas, e para não dar razão à dureza do
ser que deu o primeiro passo no caminho dos extremos - independente das causas
que o levaram a isso -, tendem a recuar na tentativa de preservar a relação
que, naquele momento, não se consegue estabelecer.
Às vezes é preciso dar um passo atrás diante dos obstáculos
para que possamos melhor compreendê-lo em sua totalidade e, em seguida, reunir
os instrumentos necessários para seguir adiante, de preferência somando
esforços ao invés de dividi-los. Afinal, como já disse o professor Clóvis de
Barros Filho, “A tolerância é a virtude moral de resistência ao ódio”.
O exercício da tolerância e a ponderação sobre os diversos
tons que existem entre o preto e o branco nos ajudam a contribuir com o todo.
Se podemos somar, qual a razão para não o fazer? Afinal, o que é ter razão?
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