25 abril 2016

Na era da tecnologia


Para quem vive conectado à internet e redes sociais, parece algo impossível imaginar passar dias longe do mundo online. Carregadores portáteis e outros utensílios similares que nos mantêm ligados à rede são a prova de que McLuhan, em meados da década de 60, foi mais do que um visionário ao publicar Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem, Editora Cultrix (1964).

É indiscutível a infinidade de possibilidades que o mundo virtual nos oferece, tanto no que se refere ao acesso aos mais variados tipos de conteúdo, assim como o contato com os produtores destes. Há poucos dias tive a oportunidade de trocar uma ideia por e-mail com o Fernando Mesquita, sobre política, estudos e perspectivas que o período nebuloso nos oferece. Qual a probabilidade desse ‘encontro’ acontecer, sem o mundo virtual? É provável que tenda a zero!

Mas neste mundo de possibilidades que é a internet, as descobertas e o uso que se faz delas passa por uma triagem muito subjetiva e individual que é o bom senso. Isso se acreditarmos que todas as pessoas fazem o uso racional da internet, seguindo aquela regrinha básica que nos alerta sobre a necessidade de termos cuidado com o que publicamos na rede para preservar a nossa imagem.

Infelizmente, nem sempre é assim. O que vemos publicado nas redes sociais especialmente em períodos tensos e intensos como o que o Brasil vivencia nos últimos três anos, pelo menos, nos leva a crer que a internet é terra de ninguém, sem lei, sem limites, sem escrúpulos, até. Só que não. Para usar uma das milhões de expressões que já viralizaram e se tornaram clichês.

Exemplo desse uso inadequado está nos grupos de trabalho do WhatsApp. Não há mais dias e horários para nada, o que acaba tornando uma ferramenta ágil e prática em um instrumento sinônimo de aborrecimentos e até mesmo causa e/ou veículo para a prática de assédio moral.  É claro que os benefícios das novas tecnologias devem ser usados para agilizar as atividades do cotidiano, mas o excesso não pode ser a regra.

Esta realidade demonstra que o bom senso não está dando conta da medida necessária à boa convivência coletiva. Mas, qual é mesmo essa medida?

Nos meus dias de descanso forçado, fui orientada a me afastar das causas de estresse e, por isso, a primeira providência foi a desintoxicação do mundo virtual. E, acredite, existe vida off-line. O melhor é que ela é muito boa, viu?

Onze dias sem redes sociais e nos primeiros minutos após esta ‘detox virtual’, irritação seguida da pergunta, como é possível algo tão bom ter o poder de nos causar tanto incômodo?

Mais uma vez, o problema não está no instrumento, mas no (mau) uso que se faz dele. Quais são os limites para a falta de noção das pessoas para o uso de ferramentas coletivas? Esta reflexão vem me acompanhando há algum tempo e, por enquanto, existem mais perguntas do que respostas.

Nesses dias de repouso, assisti ao documentário Deep Web (2015), no Netflix, que, numa perspectiva muito mais profunda do que abordada aqui, traz à tona a discussão a respeito dos limites para o uso das tecnologias de forma livre. Na verdade, o documentário parte da discussão a respeito da extensão do poder do Estado - baseado na força e na coerção - sobre a sociedade. O filme conta a história da prisão e julgamento de Ross Ulbricht, simpatizante do anarcocapitalismo, apontado como criador do Silk Road, um site de livre comércio de tudo o que se possa imaginar, principalmente drogas, instalado na rede TOR, na qual quem navega tem o anonimato assegurado.

Tenso e intenso pensar sobre isso, não acha?

O fato é que não há possibilidade de retorno à vida sem tecnologia. Mesmo que esta seja uma opção, em algum momento a necessidade nos levará a recorrer a ela. Então, como podemos avançar em discussões necessárias como a questão da Deep Web se ainda estamos engatinhando no caminho para o bom uso do que está na superfície? Sinceramente, não sei. Mas continuo tentando. 


Diretor: Alex Winter. Narração: Keanu Reeves.

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