Para quem vive conectado à internet e redes sociais, parece
algo impossível imaginar passar dias longe do mundo online. Carregadores
portáteis e outros utensílios similares que nos mantêm ligados à rede são a
prova de que McLuhan, em meados da década de 60, foi mais do que um visionário ao
publicar Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem, Editora Cultrix (1964).
É indiscutível a infinidade de possibilidades que o mundo
virtual nos oferece, tanto no que se refere ao acesso aos mais variados tipos
de conteúdo, assim como o contato com os produtores destes. Há poucos dias tive
a oportunidade de trocar uma ideia por e-mail com o Fernando Mesquita,
sobre política, estudos e perspectivas que o período nebuloso nos oferece. Qual
a probabilidade desse ‘encontro’ acontecer, sem o mundo virtual? É provável que
tenda a zero!
Mas neste mundo de possibilidades
que é a internet, as descobertas e o uso que se faz delas passa por uma triagem
muito subjetiva e individual que é o bom senso. Isso se acreditarmos que todas
as pessoas fazem o uso racional da internet, seguindo aquela regrinha básica que
nos alerta sobre a necessidade de termos cuidado com o que publicamos na rede
para preservar a nossa imagem.
Infelizmente, nem sempre é assim.
O que vemos publicado nas redes sociais especialmente em períodos tensos e
intensos como o que o Brasil vivencia nos últimos três anos, pelo menos, nos
leva a crer que a internet é terra de ninguém, sem lei, sem limites, sem escrúpulos,
até. Só que não. Para usar uma das milhões de expressões que já viralizaram e
se tornaram clichês.
Exemplo desse uso inadequado está
nos grupos de trabalho do WhatsApp. Não há mais dias e horários para nada, o que
acaba tornando uma ferramenta ágil e prática em um instrumento sinônimo de
aborrecimentos e até mesmo causa e/ou veículo para a prática de assédio moral. É claro que os benefícios das novas
tecnologias devem ser usados para agilizar as atividades do cotidiano, mas o
excesso não pode ser a regra.
Esta realidade demonstra que o
bom senso não está dando conta da medida necessária à boa convivência coletiva.
Mas, qual é mesmo essa medida?
Nos meus dias de descanso
forçado, fui orientada a me afastar das causas de estresse e, por isso, a primeira
providência foi a desintoxicação do mundo virtual. E, acredite, existe vida off-line.
O melhor é que ela é muito boa, viu?
Onze dias sem redes sociais e nos
primeiros minutos após esta ‘detox virtual’, irritação seguida da pergunta,
como é possível algo tão bom ter o poder de nos causar tanto incômodo?
Mais uma vez, o problema não está
no instrumento, mas no (mau) uso que se faz dele. Quais são os limites para a
falta de noção das pessoas para o uso de ferramentas coletivas? Esta reflexão vem
me acompanhando há algum tempo e, por enquanto, existem mais perguntas do que
respostas.
Nesses dias de repouso, assisti
ao documentário Deep Web (2015), no Netflix, que, numa perspectiva muito mais profunda
do que abordada aqui, traz à tona a discussão a respeito dos limites para o uso
das tecnologias de forma livre. Na verdade, o documentário parte da discussão a
respeito da extensão do poder do Estado - baseado na força e na coerção - sobre
a sociedade. O filme conta a história da prisão e julgamento de Ross Ulbricht,
simpatizante do anarcocapitalismo, apontado como criador do Silk Road, um site
de livre comércio de tudo o que se possa imaginar, principalmente drogas,
instalado na rede TOR, na qual quem navega tem o anonimato assegurado.
Tenso e intenso pensar sobre
isso, não acha?
O fato é que não há possibilidade de
retorno à vida sem tecnologia. Mesmo que esta seja uma opção, em algum momento
a necessidade nos levará a recorrer a ela. Então, como podemos avançar em discussões
necessárias como a questão da Deep Web se ainda estamos engatinhando no caminho para o bom
uso do que está na superfície? Sinceramente, não sei. Mas continuo tentando.
Diretor: Alex Winter. Narração: Keanu Reeves.
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