04 novembro 2018

Pai contra Mãe


Publicado pela primeira vez em 1906, o conto “Pai contra Mãe”, de Machado de Assis, traz como tema central a escravidão no Brasil, quase 20 anos depois da promulgação da Lei área. O tema é associado a hipocrisia social que relativiza o valor da vida.
Aos 30 anos, Cândido Neves não consegue se fixar em nenhum emprego formal, apesar da ajuda dos amigos e das diversas tentativas tanto no comércio, como no setor público.
Mesmo depois de conhecer Clara, com quem se casa, a dificuldade persiste, senão a precariedade financeira para subsistência minimizada pelo trabalho de costureira da moça que, aos 22 anos, contava com a ajuda da tia, Mônica.
Amigas e a própria tia tentaram persuadir a moça de casar com Cândido Neves, porém, o apreço por festas e o discurso dele de que nada os faltaria, os fez levar o casamento adiante, assim como o desejo de ter um filho.
Depois de 11 meses de namoro, Cândido Neves e Clara se casam. Ele já trabalhava como perseguidor de escravos fugidos. Vivia das recompensas oferecidas pelos donos, em anúncios publicados nos jornais.
Sob os protestos da tia Mônica, Clara engravida, mas durante os meses de gestação a renda de Cândido Neves se torna cada vez mais escassa, devido ao aumento da concorrência.
Clara e a tia trabalhavam para fora e com os retalhos produzem o enxoval da criança. Cândido Neves não consegue mais trabalho e só vê as dividas aumentando, até que o dono do imóvel onde moram exige que pague os três meses de aluguel atrasado em cinco dias, caso contrário, seriam despejados.
Tia Mônica sugere que a criança, ao nascer, seja entregue à Roda dos Enjeitados, por meio da qual seria adotado e teria condições de sobreviver. Clara, conformada, já aprova a ideia, prontamente rejeitada por Cândido Neves.
Diante do inevitável despejo, Tia Mônica consegue com uma amiga o empréstimo de um quarto para alojar a família, mas não diz nada ao casal com o objetivo de convencer Cândido Neves a doar a criança e assim acontece.
Porém, quando estava a caminho da Roda dos Enjeitados, Cândido Neves identifica uma negra procurada pela qual o dono oferecia alta quantia. Ele deixa a criança com um conhecido e vai em busca da mulher, que pede misericórdia do perseguidor, pois está grávida e se fosse devolvida ao dono seria fortemente agredida, como castigo, o que prejudicaria a criança.
Pensando apenas em si, Cândido Neves leva a negra de volta para casa e enquanto recebe o pagamento em troca, a mulher sofre um abordo diante dos olhos de todos, por causa do estresse.
Cândido Neves recebe o dinheiro e vai em busca do filho para leva-lo de volta para casa. Lá é repreendido por tia Mônica pelo mal causado à Negra. Ele diz, apenas, que:
--Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.
O enredo se situa no Rio de Janeiro do Brasil Império, num período no qual a vida era relativizada pela cor do indivíduo. Essa diferenciação permitiu a Cândido Neves tratar com indiferença a criança da negra, tratamento que não permitiu que fosse dado a sua, apesar da possibilidade de melhores condições de vida para ela caso tivesse sido colocada para adoção. Apesar de ser incomoda, a realidade abordada no texto de Machado de Assis retrata os costumes da sociedade do final do século XIX.
⇒ Dia 82 | 365

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