Desde que comecei a estudar Jornalismo, há 16 anos, que mantenho o exercício de refletir sobre a sociedade em seus mais diversos aspectos. Questiono. Desconfio. Analiso os fatos. Busco as informações não reveladas – o que é bem diferente de entrelinhas -, para poder tirar minhas próprias conclusões, mesmo sabendo que elas ainda serão incompletas. Sim, pois, nunca saberei de tudo, então procuro minimizar os vieses antes de fechar qualquer sentença, num exercício eterno de manter a mente aberta, apesar da minha preconcebida visão de mundo.
Na era da informação compartilhada, o apelo pelo imediatismo nos leva adotar, mesmo que de forma inconsciente, posturas aceitas pelo senso comum, independente de alguns aspectos que as envolvem terem sido ou não bem analisadas. Porém, como Peter Drucker já ensinou, “O que todo mundo sabe geralmente está errado”. Muitas vezes, basta um olhar mais atento para perceber que as peças não se encaixam da maneira tão simplória que nos é apresentada. É preciso ir além, mas isso dá trabalho e nem todos estão dispostos.
E quando a situação fica difícil é mais fácil recorrer aos clichês e às formas já socialmente aceitas para responder a determinados questionamentos e encerrar o assunto. Os rótulos que a sociedade nos encaixa estão aí para provar isso. Só que a sociedade somos nós e nós não somos meticulosamente estruturados para seguir e atender a esses padrões. Cada um de nós é, na verdade, um indivíduo que, no geral, desconhece a si mesmo e que para não se sentir tão perdido procura se encaixar, seja para ser aceito pelo coletivo ou, no mínimo, se sentir confortável no ambiente no qual está inserido.
A consequência disso é que passamos a usar expressões como “pessoas de bem” para separar o “joio do trigo”, como se este enquadramento pudesse nos eximir de sermos humanos e, consequentemente, repletos de dualidades capazes de nos levar a percorrer caminhos que não temos condições de imaginar hoje. As circunstâncias nos levam a adotar posturas e a fazer escolhas imprevisíveis que, em questão de minutos, podem mudar por completo nossa forma de ver e de estar no mundo.
O Jornalismo tem a função social de levar à sociedade a informação de que ela necessita para minimizar as lacunas que dificultam a tomada de decisão. O juízo de valor a respeito dos fatos cabe ao indivíduo ao ter contado com os fatos relatados. Ao menos deveria caber, já que é esta análise que o fará, em conjunto com seus pares, definir os caminhos do todo, mesmo que neste processo reflexivo tenhamos que questionar instituições que representam o “bem acima de qualquer suspeita”, como relatado no filme #Spotlight - Segredos Revelados.
As instituições, inclusive as religiosas, são formadas por homens sujeitos a revelar desvios de caráter. Acredito que esta é uma premissa básica da condição de ser humano. E, se diante desta realidade, não podemos “crucificar” uma instituição pelos homens que a integram, também não podemos “canonizar” homens por fazerem parte de uma instituição pelo simples fato dela ser o modelo representativo das “pessoas de bem”. Humanos são falhos. As generalizações são perigosas. Escolher se manter cego diante dos fatos é um equívoco capaz de prejudicar imensamente o coletivo.
O filme, baseado em fatos reais, revela o trabalho investigativo de uma equipe de jornalistas americanos a respeito de um esquema da igreja católica nos Estados Unidos para abafar os casos de pedofilia praticados por padres em diversas comunidades do país. Desde 2002, mais de 600 reportagens foram publicadas em um jornal impresso para denunciar o caso. Os erros, acertos e dilemas da equipe e demais envolvidos na investigação nos levam a refletir sobre a importância de quebrar as amarras nas quais os rótulos sociais nos prendem.
Esta análise vale para todas as instituições. Observar e corrigir os equívocos nos permite aprender com eles, proteger os indivíduos e minimizar as consequências, isso se optarmos não por fingir que eles não acontecem. Atitudes proativas levam ao desenvolvimento da sociedade em seus mais diversos aspectos, inclusive, ao fortalecimento dos aspectos morais e éticos que tanto clamamos.
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