Quando terminei de ler “Como eu era antes de você” prometi a
mim mesma esperaria alguns meses para me debruçar sobre “Depois de você”, Editora Intrínseca, que
conta a história de Lou Clark após a morte de Will Traynor.
Demorei para conhecer Jojo Moyes, mas já no prólogo
da primeira parte da história de Lou e Will, o texto da escritora e jornalista
inglesa me envolveu ao ponto de tirar o fôlego na leitura de suas palavras. A intensidade
se manteve nas mais de 300 páginas da obra. Precisava me recuperar, mas não
resisti.
As histórias contadas por ela se entrelaçam e nos
surpreendem a cada página, mas mais do que uma opção de entretenimento, as duas
obras nos levam a reflexões a respeito de nós mesmos, sobre como lidamos com os
mais diversos fatos do cotidiano, o julgamento que fazemos de nós mesmos e do
outro e o significado disso tudo para nós.
Num primeiro momento, pode até parecer um enredo banal, mas
Jojo Moyes é artista no uso das letras e na forma de nos revelar que nada há de
banalidade em olhar para si mesmo para encarar aquilo que tentamos esconder dos
outros e de nós mesmos, como se uma fuga do próprio eu fosse possível e real.
Para se recuperar da perda de Will, Lou segue as instruções
deixadas por ele e viaja para conhecer aquilo que ele não se julgou capaz de
mostrar a ela em vida. Lou vai, mas volta para Londres, onde sofre um acidente
e se vê, literalmente, obrigada a encarar as pessoas e os fatos dos quais
tentou fugir.
Para superar o luto é preciso vivê-lo. E por mais que Lou
tenha encarado uma situação catastrófica que a levou a mergulhar em uma
depressão que não admitia, “Depois de você” trata sobre a perda em seus mais
diversos aspectos. Das físicas às psicológicas.
O quanto a perda do convívio com alguém é capaz de nos
abalar e/ou fazer observar
comportamentos e sentimentos em nós mesmos os quais nem mesmos nos damos conta?
Como a mudança de comportamento do outro é capaz de nos abalar por nos tirar da
zona de conforto que o comodismo nos traz? Como perceber que, apesar do medo,
precisamos simplesmente seguir, pois por mais que a gente planeje, não existem
certezas?
Só tenho... medo. - Todos nós temos medo, Lou. – Você não tem medo de nada. – Tenho, sim. Só que não de coisas que você notaria.
(...)
Então a gente deve ficar sentado sem fazer nada porque pode sofrer um acidente? Isso é viver?
(...)
A gente vive. E se joga em tudo, tentando não pensar nos ferimentos.
A nova etapa da vida de Lou Clark, lidando com os próprios demônios,
encontros e desencontros, mais uma vez me levaram às lágrimas e aos risos,
apesar de seu humor não ter em “Depois de Você”, nem de longe, a alegria que marcou
sua personalidade em “Como eu era antes de você”.
Jojo Moyes nos revela uma Lou de áurea cinza, a começar
pelas roupas, mas que apesar de todas as dificuldades para enfrentar a si
mesma, é capaz de deixar o sofrimento e a auto piedade de lado para cuidar do
outro. E neste processo, ela revela o quanto pode ser estranho se perceber cuidada
por terceiros, nas mínimas coisas, das palavras às atitudes.
Ter que cumprir papeis, dar respostas, atender expectativas,
sem lembrar que somos humanos e que a vida é autônoma, nos dá uma falsa sensação
de segurança. E é este sentimento o primeiro a desaparecer quando percebemos
que não há nada mais ilusória do que a sensação de controle sobre a
complexidade da vida.
Somos. Sentimos. Vivemos. Tentamos minimizar impactos. Mas não
somos nada além do que seres em adaptação às mudanças que a vida nos impõe.
Temos escolhas, sem dúvidas, mas as marcas, lembranças, aprendizados e o
significado que ela – a vida - nos
obriga a enfrentar, estarão conosco independente do caminho que optarmos por
seguir e que vai sendo construído a cada nova experiência.
Acompanhar a trajetória de Lou Clark, em “Depois de Você”, e
perceber o quanto nossas vidas mudam, a partir dos encontros, desencontros e
aprendizados que fogem ao nosso querer, nos ajuda a perceber que o medo da
perda faz parte da trajetória e não pode nos paralisar. Vale demais a leitura!
Best quote:
Gosto de dizer que, embora o nome do grupo seja Seguindo em Frente, nenhum de nós segue em frente sem olhar para trás. Seguimos em frente sempre levando aqueles que perdemos. O que temos a intenção de fazer em nosso pequeno grupo é assegurar que trazê-los conosco não é um fardo impossível de carregar, um peso que nos mantém empacados no mesmo lugar. Queremos sentir a presença dessas pessoas como uma dádiva. (...). E não importa se essa pessoa nos foi tirada depois de seis meses ou sessenta anos, nós tivemos a dádiva de tê-la conhecido. (...). Tivemos essa sorte.